terça-feira, 20 de novembro de 2018

Escolas asas e escolas gaiolas - novas reflexões


No dia 17 de setembro de 2016 postei algumas reflexões acerca de um texto de Rubens Alves chamado Gaiolas ou asas?.

Link para a postagem:




Neste texto Rubens Alves escreve sobre dois tipos de escola: as escolas gaiolas e as escolas asas. As escola gaiolas reprimem, seguem programas conteudistas, tentam conter os alunos.  "Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendem a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados têm sempre um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo" (ALVES, 2002, p. 29).
As escolas asas, por outro lado, libertam, ensinam os alunos a pensarem por si próprios, ensinam a caminharem sozinhos. "Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado"  (ALVES, 2002, p. 29).
As escolas asas não podam as crianças. É comum os alunos irem perdendo a espontaneidade dos primeiros anos de escola, como se tivessem sido domesticados. A preocupação com os conteúdos, a disciplina, fazem com que mecanismos de repressão sejam usados em escolas gaiolas. Os alunos aprendem o que e como os professores decidem. Nas escolas asas os alunos são encorajados a falar, lutar. Suas inteligências outras (que as escolas gaiolas desdenham) são valorizadas. Sentem-se capazes. 

E de que forma podemos fazer uma escola asa? 
Rubens Alves resume a boa educação em duas palavras: ferramenta e brinquedo.

"Ferramentas" são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. "Brinquedos" são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da Nona Sinfonia [Beethoven]. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramenta e brinquedos, está o resumo da educação. Ferramenta e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramenta me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma (ALVES, 2002, p. 32).

São palavras que resumem uma forma fascinante de educar. Fiquei encantada...

Na postagem do dia 17 de setembro de 2016, escrevi sobre uma apresentação musical que teve na escola, tendo participado um grupo de alunos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), os alunos do grupo de música da escola e eu ao piano. A plateia consistia em alunos com idades entre 6 e 14 anos. A atenção desses alunos, o respeito, a admiração  eram coisas lindas de se ver.

Estávamos ensinando brinquedos!!! Alimentando a alma de nossos alunos.

Não posso deixar de fazer a mesma relação com as atividades que tenho desenvolvido no meu estágio. A semana que passou foi, em especial, repleta de atividades que podemos considerar de “brinquedos”, próprias de escolas asas.

Fomos à Feira do Livro, assistimos a uma apresentação do músico Frank Jorge, fomos até a sala de música da escola, tocamos piano e outros instrumentos, iniciamos os trabalhos sobre a Consciência Negra... Abrimos o espaço da sala de aula para que nossos alunos pudessem “voar”. Expandimos os horizontes do processo de ensino-aprendizagem, mostrando outras possibilidades de aprender, de conhecer, de ver, sentir e viver.

Ainda temos muitas atividades planejadas, como filme, janta especial, sarau...

Muitas reflexões estão sendo feitas a partir destas atividades. Estamos conseguindo estabelecer relações entre uma atividade e outra, entre diferentes temas. Estamos amadurecendo nosso jeito de ensinar e aprender.

Fico feliz em participar deste processo, de ensinar e aprender com meus alunos, com os colegas, com a escola. De ensinar e aprender “brinquedos”!!!


Alunos junto ao piano da escola


Frank Jorge na Feira  do Livro


Alunos assistindo ao Frank Jorge na Feira do Livro




Referências

ALVES, Rubem. Gaiolas ou asas? In: ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. Campinas: Papirus, 2002, p. 29-32.

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