sábado, 17 de setembro de 2016

Sobre escolas gaiolas e escolas asas...

Esta semana tivemos a oportunidade (e o privilégio) de ler o texto "Gaiolas ou Asas" de Rubens Alves.  Digo privilégio não porque poucas pessoas o leram, mas pelo seu excelente conteúdo. O autor escreve sobre dois tipos de escola: as escolas gaiolas e as escolas asas. As escola gaiolas reprimem, seguem programas conteudistas, tentam conter os alunos.  "Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendem a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados têm sempre um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo" (ALVES, 2002, p. 29).
As escolas asas, por outro lado, libertam, ensinam os alunos a pensarem por si próprios, ensinam a caminharem sozinhos. "Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado"  (ALVES, 2002, p. 29).
As escolas asas não podam as crianças. É comum os alunos irem perdendo a espontaneidade dos primeiros anos de escola, como se tivessem sido domesticados. A preocupação com os conteúdos, a disciplina, fazem com que mecanismos de repressão sejam usados em escolas gaiolas. Os alunos aprendem o que e como os professores decidem. Nas escolas asas os alunos são encorajados a falar, lutar. Suas inteligências outras (que as escolas gaiolas desdenham) são valorizadas. Sentem-se capazes. 

E de que forma podemos fazer uma escola asa? 
Rubens Alves resume a boa educação em duas palavras: ferramenta e brinquedo.

"Ferramentas" são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. "Brinquedos" são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da Nona Sinfonia [Beethoven]. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramenta e brinquedos, está o resumo da educação. Ferramenta e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramenta me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma (ALVES, 2002, p. 32).

São palavras que resumem uma forma fascinante de educar. Fiquei encantada...

Relacionando a escola asa com minha escola...

Essa semana realizamos um recital de inauguração do piano da escola. Sim... uma escola pública municipal teve o imenso privilégio de receber a doação de um piano, graças ao esforço de alguns professores envolvidos com projetos de música na escola.
 No recital estiveram presente um grupo de alunos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS),  com três alunos que nos brindaram tocando algumas peças ao piano e um grupo de percussionistas que tocaram e cantaram. Apresentaram-se também o grupo de música da escola Judith Macedo de Araújo (minha escola). E entre essas belas apresentações, pude executar ao piano uma peça de Ronaldo Miranda chamada "Valsa Só".
Foi lindo...
A plateia consistia em alunos com idades entre 6 e 14 anos. A atenção desses alunos, o respeito, a admiração  eram coisas lindas de se ver.

Estávamos ensinando brinquedos!!! Alimentando a alma de nossos alunos.



ALVES, Rubem. Gaiolas ou asas? In: ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. Campinas: Papirus, 2002, p. 29-32.

Nenhum comentário:

Postar um comentário