No dia 24 de setembro de 2016, postei uma reflexão sobre o ver e o olhar relacionando com o escutar e o ouvir.
Link para postagem:
https://keniaswerner.blogspot.com/2016/09/o-ver-e-o-olhar-o-ouvir-e-o-escutar.html
Depois, no dia 1 de outubro de 2016, complementei a postagem com algumas fotos da minha escola:
https://keniaswerner.blogspot.com/2016/10/ainda-sobre-o-ver-e-o-olhar.html
Este sempre foi um assunto que me faz pensar sobre as infinitas possibilidade que ele nos traz. A "cegueira" e a "surdez" que temos perante a fatos corriqueiros de nosso dia a dia faz com que não prestemos atenção a coisas interessantes que acontecem ao nosso redor.
Este semestre estou participando de um curso de extensão universitária chamado Cartografando a escola: o diário de campo on line e a experiência docente. Este curso foi criado para nos oferecer uma ferramenta tecnológica para a realização do nosso estágio e está nos proporcionando muitas aprendizagens. O que me levou a citar este curso foram dois textos oferecidos pelo professor Daniel de Queiroz Lopes: Educando o olhar da observação - Aprendizagem do olhar, de Madalena Freire Weffort (1996), e O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo, de Virgínia Kastrup (2007).
Estes dois textos vieram agregar dados às minhas reflexões a respeito do "ver" e do "ouvir".
Ambos os textos tratam da "atenção" ao observar. Kastrup analisa a atenção no Método Cartográfico, criado por Deluze e Guattari, que visa acompanhar o processo, e não representar um objeto. A atenção, analisada pela autora a partir de Freud (atenção flutuante) e Bergson (reconhecimento atento), é tomada como ponto fundamental na etapa da "coleta de dados" ou, numa visão construtivista, da "produção de dados" da pesquisa.
A atenção é tomada com a função de "detecção de signos e forças circulantes, de pontas do processo em curso" (p. 15), e enquanto processo complexo em suas várias combinações (seletivo ou flutuante, focado ou desfocado, concentrado ou disperso, voluntário ou involuntário).
A cartografia adota uma política cognitiva construtivista, que toma o mundo como uma invenção, como engendrado conjuntamente com o agente do conhecimento, exigindo uma "atenção cartográfica", ou seja, flutuante, concentrada e aberta".
Neste sentido, Freire nos traz uma reflexão a respeito da aprendizagem do olhar (ver) e do ouvir (escutar) atentos, elementos fundamentais para a atenção cartográfica.
Neste processo de aprendizagem, a autora constata alguns movimentos na sua construção:
- o movimento de concentração para a escuta do próprio ritmo, aquecimento do próprio olhar e registro da pauta para a observação. O que se quer observar, que hipóteses se quer checar, o que se intui que não se vê, não se estende, não se sabe qual o significado, etc.;
- o movimento que se dá no registro das informações, seguindo o que cada um se propôs na pauta planejada. Onde o desafio em sair de si para colher os dados da realidade significativa e não da idealizada;
- o movimento de trazer para dentro de si a realidade observada, registrada, para assim poder pensá-la, interpretá-la. É enquanto reflito sobre o que vi, que a ação de estudar extrapola o patamar anterior. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não sabemos, pois iremos nos defrontar com nossas hipóteses adequadas e inadequadas e construir um planejamento do que falta observar, compreender, estudar (FREIRE, 1996, p. 1-2).
As colocações acima vêm adicionar ingredientes às minhas reflexões. Num momento em que estamos realizando nosso estágio curricular, em que temos que estar o tempo inteiro observando e percebendo as diferentes correntes, movimentos, energias que circulam em nossas salas de aulas, precisamos aprender a ver e escutar com atenção cartográfica. Só assim poderemos entender de fato o processo dos acontecimentos em curso, seja dos nossos alunos, da escola, do grupo de professores, da comunidade escolar. De tudo aquilo que nos interessa para entendermos o que faz de nossos alunos serem o que são e a partir disso, traçar estratégias de ensino e aprendizagem condizentes às necessidades de nosso público.
Referências
KASTRUP, Virgínia. O funcionamento da atenção no trabalho cartógrafo. Psicologia & Sociedade; 19 (1): 15-22, jan./abr. 2007.
WEFFORT. Madalena Freire. Educando o olhar da observação: Aprendizagem do olhar. In: FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: instrumentos metodológicos I. 2 ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.