domingo, 21 de outubro de 2018

O "ver" e o "olhar". O "ouvir" e o "escutar" - Novas reflexões


No dia 24 de setembro de 2016, postei uma reflexão sobre o ver e o olhar relacionando com o escutar e o ouvir.

Link para postagem:

https://keniaswerner.blogspot.com/2016/09/o-ver-e-o-olhar-o-ouvir-e-o-escutar.html

Depois, no dia 1 de outubro de 2016, complementei a postagem com algumas fotos da minha escola:

https://keniaswerner.blogspot.com/2016/10/ainda-sobre-o-ver-e-o-olhar.html


Este sempre foi um assunto que me faz pensar sobre as infinitas possibilidade que ele nos traz. A "cegueira" e a "surdez" que temos perante a fatos corriqueiros de nosso dia a dia faz com que não prestemos atenção a coisas interessantes que acontecem ao nosso redor.

Este semestre estou participando de um curso de extensão universitária chamado  Cartografando a escola: o diário de campo on line e a experiência docente. Este curso foi criado para nos oferecer uma ferramenta tecnológica para a realização do nosso estágio e está nos proporcionando muitas aprendizagens. O que me levou a citar este curso foram dois textos oferecidos pelo professor Daniel de Queiroz Lopes: Educando o olhar da observação - Aprendizagem do olhar, de Madalena Freire Weffort (1996), e O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo, de Virgínia Kastrup (2007).

Estes dois textos vieram agregar dados às minhas reflexões a respeito do "ver" e do "ouvir".

Ambos os textos tratam da "atenção" ao observar. Kastrup analisa a atenção no Método Cartográfico, criado por Deluze e Guattari, que visa acompanhar o processo, e não representar um objeto. A atenção, analisada pela autora a partir de Freud (atenção flutuante) e Bergson (reconhecimento atento), é tomada como ponto fundamental na etapa da "coleta de dados" ou, numa visão construtivista, da  "produção de dados" da pesquisa.

A atenção é tomada com a função de "detecção de signos e forças circulantes, de pontas do processo em curso" (p. 15), e enquanto processo complexo em suas várias combinações (seletivo ou flutuante, focado ou desfocado, concentrado ou disperso, voluntário ou involuntário).

A cartografia adota uma política cognitiva  construtivista, que toma o mundo como uma invenção, como engendrado conjuntamente com o agente do conhecimento, exigindo uma "atenção cartográfica", ou seja, flutuante, concentrada e aberta".

Neste sentido, Freire nos traz uma reflexão a respeito da aprendizagem do olhar (ver) e do ouvir (escutar) atentos, elementos fundamentais para a atenção cartográfica.

Neste processo de aprendizagem, a autora constata alguns movimentos na sua construção:


- o movimento de concentração para a escuta do próprio ritmo, aquecimento do próprio olhar e registro da pauta para a observação. O que se quer observar, que hipóteses se quer checar, o que se intui que não se vê, não se estende, não se sabe qual o significado, etc.;
- o movimento que se dá no registro das informações, seguindo o que cada um se propôs na pauta planejada. Onde o desafio em sair de si para colher os dados da realidade significativa e não da idealizada;
- o movimento de trazer para dentro de si a realidade observada, registrada, para assim poder pensá-la, interpretá-la. É enquanto reflito sobre o que vi, que a ação de estudar extrapola o patamar anterior. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não sabemos, pois iremos nos defrontar com nossas hipóteses adequadas e inadequadas e construir um planejamento do que falta observar, compreender, estudar (FREIRE, 1996, p. 1-2).

As colocações acima vêm adicionar ingredientes às minhas reflexões. Num momento em que estamos realizando nosso estágio curricular, em que temos que estar o tempo inteiro observando e percebendo as diferentes correntes, movimentos, energias que circulam em nossas salas de aulas, precisamos aprender a ver e escutar com atenção cartográfica. Só assim poderemos entender de fato o processo dos acontecimentos em curso, seja dos nossos alunos, da escola, do grupo de professores, da comunidade escolar. De tudo aquilo que nos interessa para entendermos o que faz de nossos alunos serem o que são e a partir disso, traçar estratégias de ensino e aprendizagem condizentes às necessidades de nosso público.

Referências

KASTRUP, Virgínia. O funcionamento da atenção no trabalho cartógrafo. Psicologia & Sociedade; 19 (1): 15-22, jan./abr. 2007.

WEFFORT. Madalena Freire. Educando o olhar da observação: Aprendizagem do olhar. In: FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: instrumentos metodológicos I. 2 ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Uma possível pesquisa sobre alfabetização - nova reflexão


No dia 18 de outubro de 2015 realizei uma pequena postagem em que demonstro interesse pela teoria de Emília Ferreiro. Sem aprofundar o assunto, manifestei curiosidade em relacionar essa teoria com as teorias de aprendizagem musical.


Link para postagem original:

https://keniaswerner.blogspot.com/2015/10/uma-possivel-pesquisa-sobre_18.html

Hoje, devido ao estágio obrigatório que estou realizando, reencaminho meu interesse sobre como essa teoria pode me auxiliar na alfabetização da EJA. Sendo assim, farei algumas colocações gerais a respeito da biografia da autora e de sua teoria, e após, algumas reflexões em relação à essa teoria e as atividades que estou desenvolvendo no estágio obrigatório do PEAD. Vamos à ela!


Emilia Beatriz Maria Ferreiro Schiavi (1937 - ) é natural da cidade de Buenos Aires, Argentina. Formou-se em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires. Trabalhou como pesquisadora-assistente de Jean Piaget (1896-1980) na Universidade de Genebra-Suíça e obteve o título de PhD na linha de pesquisa inaugurada por Hermine Sinclair, denominada por Piaget de Psicolinguística Genética (Revista Viver Mente & Cérebro, 2005). No ano de 1979, atuou no Centro de Investigações de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, localizado no México e nele exerce suas funções até os dias atuais (OLIVEIRA MELLO, s.d., p.04). Emilia Ferreiro está viva, possui 81 anos de idade, é residente no México e tem dois filhos.

Suas pesquisas se caracterizam por serem pertencentes a concepção educacional construtivista, ou seja, seus estudos colocam o aluno como o centro do processo educativo, observam os mesmos como indivíduos ativos, reflexivos. Ela acredita que a criança constrói sua própria escrita, logo não compreendem esse sistema por meio do emprego da cópia. Ferreiro procurou compreender quem era o sujeito infantil e como ele constrói suas concepções sobre o sistema de escrita. Entendeu que enfrentam diversas fases que os conduzirão a se apropriarem do sistema de leitura e escrita. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985).

Para Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1944 - ), que auxiliou Emilia nas pesquisas, a aprendizagem da leitura e da escrita se dá em quatro fases, denominadas pelas autoras de: pré-silábico; silábico; silábico-alfabético e alfabético.

Vejamos um ditado que fiz com meus alunos do estágio:






No trabalho acima, percebemos que o aluno não possui valor sonoro das palavras. Para ele, escrever uma palavra bata um encadeamento de letras.



 Este aluno do trabalho acima consegue escrever as palavras, já está alfabetizado. 



 Este aluno possui o valor sonoro das vogais da primeira sílaba das palavras.




Este aluno conseguiu colocar a primeira letra de cada palavra. Possui valor sonoro


Cada um destes alunos está no seu tempo de alfabetização. Respeitando suas bagagens fora da escola, suas hipóteses de escrita, há de se traçar diferentes estratégias para ajudá-los na sua caminhada até a alfabetização. Percebo como é importante nos apoiarmos em uma teoria para entendermos os diferentes processos de nossos alunos. E nada melhor que Emilia Ferreiro!!!!!


REFERÊNCIAS

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. 3º edição. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1985.

OLIVEIRA MELO, Márcia Cristina de. A contribuição do pensamento de Emilia Ferreiro para a história da alfabetização no Brasil. São Paulo, s.d. Disponível em: < http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema4/4103.pdf> Acesso em:12 out. 2018.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Uma brincadeira com copos e os conhecimentos acionados - nova reflexão

No dia 27 de setembro de 2015 postei o vídeo de uma atividade que realizei com meus alunos em uma aula de música.

Link da postagem original:

https://keniaswerner.blogspot.com/2015/09/uma-brincadeira-com-copos-e-os.html

Link para o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=upDJiMmXAEY

Naquela postagem fiz uma rápida relação com os quatro tipos de conhecimento: social, motor, físico e lógico que estávamos trabalhando na Interdisciplina de Alfabetização. Hoje, relendo a postagem, percebo o quanto mais poderia ter explorado essa relação entre o aprendizado no PEAD e minha prática. Vamos a ela!


Tipos de conhecimentos

De acordo com Annamaria Píffero Rangel (2008), Piaget identificou três tipos de conhecimento: físico, lógico-matemático e social. A autora ainda acrescenta um quarto tipo, o conhecimento motor ou procedural. É importante a consciência desses diferentes tipos de conhecimento, pois cada um deles exige diferentes estratégias para serem desenvolvidos.

CONHECIMENTO FÍSICO: "É aquele que se pode obter pela manipulação direta dos objetos. Por exemplo: pegar na mão um cubo de madeira e sentir sua textura, seu peso, enfim, suas propriedades" (p.30).

CONHECIMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO: "Decorrente de um estabelecimento de relações e que precisa de conhecimentos físicos, motores e sociais para ocorrer. Por exemplo: pegar um cubo de madeira e um de vidro e verificar qual é o mais frio" (p. 30).

CONHECIMENTO SOCIAL: "Trata-se de uma convenção de um grupo social e varia de povo para povo, de grupo para grupo. Por exemplo: MESA - o mesmo objeto é chamado de MESA em português, de TABLE em francês (...)" (p. 31).

CONHECIMENTO MOTOR OU PROCEDURAL: "(...) está relacionado à melhoria motora que ocorre quando é feito um exercício. Exemplo: aprender a andar de bicicleta" (p. 34).


A atividade dos copos

A atividade dos copos é uma brincadeira musical que consiste em formar um círculo onde cada criança segura um copo. Cantando eles realizam uma espécie de coreografia com os copos, sendo que em dado momento o copo é passado para o colega ao lado (conforme o vídeo).


Essa brincadeira envolve os quatro tipos de conhecimentos:

Conhecimento físico: a própria manipulação dos copos faz com que o participante diferencie os diferentes tamanhos, texturas que os copos apresentam (pois não são exatamente iguais todos eles);
Conhecimento motor: a coreografia, a passagem dos copos para o colega ao lado exige do participante a coordenação motora necessária para tal;
Conhecimento Social: as regras da brincadeira não são conhecidas pelos participantes antes de serem explicadas por alguém ou observadas quando outros estão a praticar a brincadeira;
Conhecimento lógico: a relação entre a letra da música e os movimentos que devem ser feitos com os copos exigem um conhecimento lógico do participante.

Há muitas outras brincadeiras que, como essa, envolvem os quatro tipos de conhecimentos. De uma forma lúdica, estaremos oferecendo ao alunos momentos prazerosos de aprendizagens.



Referências

RANGEL, Annamaria Píffero. Alfabetizar aos seis anos. Porto Alegre: Mediação, 2008.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

As amarras do planejamento das aulas do estágio


Eis aqui um trecho da minha primeira reflexão sobre a prática pedagógica do estágio:

Uma das minhas maiores inquietações no processo do estágio é ter que planejar com antecedência. Como professora de Artes, eu tinha o planejamento, mas ele oscilava de acordo com o andamento da turma. Muitas vezes entrei na sala com um propósito, planejamento pronto, olhei para os alunos e mudei completamente o que havia planejado, pois percebia que estavam querendo outro tipo de atividade. Por mais que esteja deixando em aberto meu planejamento para editar depois, me sinto “amarrada” por ele, pois a medida que as aulas vão acontecendo, vou tendo ideias que acho que seriam legais para aquele momento.
Entendo que seja necessário eu organizar, definir meus objetivos para a semana, mas ter que fazer o planejamento nos mínimos detalhes, indicando quais atividades exatas que vou aplicar, me parecem que são atitudes que vão de encontro ao que estudamos no PEAD. A proposta de uma educação que se propõe partir dos interesses dos alunos, deve deixar uma margem maior para o planejamento do decorrer da semana. De acordo com Zen e Xavier (2011, p. 32), “'planejamento é processo constante através do qual a preparação, a realização e o acompanhamento se fundem, são indissociáveis'. Ao revisarmos uma ação realizada, estamos preparando uma nova ação num processo contínuo e initerrupto”.


Referência

ZEN, Maria Isabel H. Dalla; XAVIER, Maria Luisa M. (Orgs). Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Mediação, 2011.