sexta-feira, 14 de abril de 2017

Pensamento formal na Educação de Jovens e Adultos (EJA)

Um dos textos sugeridos pelas professoras da Interdisciplina Psicologia da vida adulta é Evolução intelectual da adolescências à vida adulta,  de Jean Piaget (1972).
Nele, o autor se debruça sobre a análise da nova lógica que surge nos adolescentes entre 14-15 anos para entender o que pode acontecer entre a adolescência e a plena vida adulta.

A principal novidade desse período é a capacidade para raciocinar em termos de hipóteses expressas verbalmente e não mais, meramente, em termos de objetos concretos e sua manipulação. Esse é um ponto crítico decisivo, porque pensar hipoteticamente e deduzir as consequências que as hipóteses necessariamente implicam ( independente da verdade intrínseca ou falsidade das premissas) são processos do pensamento formal. Consequentemente a criança pode atribuir um valor decisivo à forma lógica das deduções, o que não ocorria nos estádios anteriores (PIAGET, 1972, p. 3).
A aquisição do pensamento formal pelo adolescente, implica numa série de diferenças em relação às fases anteriores, como o colocar-se no lugar do outro, capacidade de pensamento combinatório, conceitos como reversalidade, entre outros.

Após estas definições, o autor pondera algumas variáveis que podem ocorrer nessa fase. Uma delas seria a velocidade do desenvolvimento, ou seja, essa fase apareceria em todos os indivíduos normais porém em idades diferentes, em alguns casos, após a idade padrão citada acima (14-15 anos).
Outra seria o fator social que envolveria os adolescentes, pois os de classes privilegiadas teriam mais acesso a oportunidades que permitissem o desenvolvimento do pensamento formal em idade mais tenra.

Diante de tais argumentos Piaget formula uma primeira hipótese: "(...) em princípio, todos os indivíduos normais são capazes de chegar ao nível das estruturas formais na condição do que o meio social e a experiência adquirida proporcione ao sujeito alimento cognitivo e estimulação intelectual necessários para cada construção" (PIAGET, 1972, p. 6).

 Numa segunda hipótese, o autor pondera as diferenças nos pensamentos das pessoas a medida em que tornam-se adultos, e pondera que "(...) somente indivíduos talentosos do ponto de vista da lógica, matemática e física conseguiriam construir tais estruturas formais, enquanto indivíduos talentosos do ponto de vista da literatura, artes e prática seriam incapazes de fazê-lo" (PIAGET, 1972, p. 6).

É porém a terceira hipótese levantada por Piaget que nos leva a uma reflexão interessante:

Porém, há possibilidade de uma terceira hipótese e, no presente estado de conhecimento, esta última interpretação parece ser a mais provável. Permite-nos, ela, reconciliar o conceito de estádios com a ideia de aptidões progressivamente diferenciadas. Em síntese, nossa terceira hipótese afirmaria que todos os sujeitos normais atingem o estádio das operações formais ou estruturação se não entre 11-12 a 14-15 anos, pelo menos entre 15-20 anos. Porém, eles atingem este estádio em diferentes áreas de acordo com suas aptidões e suas especializações profissionais (estudos avançados ou diferentes tipos de aprendizagem para as várias profissões). A maneira pela qual essas estruturas formais são usadas, porém, não é necessariamente a mesma em todos os casos (PIAGET, 1972, p. 7).
Essa é uma hipótese que explicaria até mesmo o tão cobiçado talento. Principalmente na área das artes esse conceito é relacionado como dom, como algo para poucos, numa visão romântica da arte. Mas, se o pensamento formal se desenvolve em todos os indivíduos, porém diferentemente em cada um, natural que cada pessoa o aplicará na sua área de maior interesse.

Mas transpondo para minha realidade atual, como professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA), essa hipótese explica porque um aluno pedreiro, por exemplo, realiza cálculos mentais com extrema facilidade e, quando solicitado a realizar o cálculo escrito, se perde e não entende como fazê-lo.

Considero esse texto de suma importância para entender o funcionamento do aprendizado dos alunos da EJA. Vale a pena estudá-lo com mais afinco e realizar análises a partir de situações que ocorrem na minha escola.

Referências

PIAGET, Jean. Evolução intelectual da adolescências à vida adulta. 1972, Tradução Tania Marques e Fernando Becker. Disponível em:
file:///C:/Users/Kênia/Desktop/textos%20psicologia/Desenvolvimento%20intelectual%20da%20adolescência%20à%20vida%20adulta.pdf. Acesso em: 14 abr. 2017.

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