Em agosto publiquei algumas reflexões sobre o texto de Rubens Alves que havíamos lido para a interdisciplina Seminário Integrador. Naquela postagem escrevi sobre o recital de inauguração do piano que nossa escola recebeu. Vale a pena repetir a citação do texto que fiz para embasar minha reflexão:
"Ferramentas" são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. "Brinquedos" são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da Nona Sinfonia [Beethoven]. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramenta e brinquedos, está o resumo da educação. Ferramenta e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramenta me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma (ALVES, 2002, p. 32).
Hoje quero apresentar mais uma atividade realizada na minha escola que, segundo Rubens Alves, é "brinquedo", "nos permite voar pelos caminhos da alma". Trata-se do projeto Adote um escritor". Todos os anos, as escolas municipais de Porto Alegre "adotam" um escritor, ou seja, escolhem um escritor e trabalham suas obras com seus alunos e, para finalizar, o escritor vem até a escola e conversa com os alunos sobre seus processo de escrita (é um projeto da Secretaria de Educação).
Este ano, nosso Adote foi um pouco diferente. O autor escolhido foi Fernando Pessoa, e quem veio declamar seus poemas foi o ator Jairo Klein, que se caracteriza como o poeta e declama seus versos.
As turmas que receberam o ator foram da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Entre os muitos poemas trabalhados, escolhemos "Noite de São João" para fazermos o cenário para esperar o autor. Esse poema, de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, foi musicado por Vitor Ramil. Eis os versos:
Noite de São João para além do muro do meu quintal
Do lado de cá, eu sem noite de São João.
Por que há São João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruido de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
Em conjunto com os alunos, construímos um muro, um céu muito estrelado e um menino a espiar por esse muro. E pelo restante da sala, montamos uma festa de São João. Este cenário ambientou de maneira fascinante a representação do ator. Ele "se transformou" em Fernando Pessoa no palco. Foi se maquiando e explicando aos alunos o processo de ser ator, de preparação, construção do personagem, concentração... E arrasou na sua interpretação!!!!!!!!
foi uma oportunidade única para nossos alunos da EJA assistirem a um espetáculo tão bem feito como esse. Ficamos extremamente agradecidos e felizes por estarmos ali naquele momento especial.
Mais uma vez oportunizamos "brinquedos" a nossos alunos!!!!!!
Como reflexão posterior, estamos analisando aspectos de "intermidialidade", uma vez que o poema foi escrito por Fernando Pessoa, musicado por Vitor Ramil, encenado por Jairo Klein e transformado em Arte Visual por nós da EJA.
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