Método clínico é um procedimento de coleta e análise de dados para o estudo do pensamento da criança ( embora também se aplique ao estudo do pensamento dos adultos) que se realiza mediante entrevistas ou situações muito abertas, nas quais se procura acompanhar o curso do pensamento do sujeito ao longo da situação, fazendo sempre novas perguntas para esclarecer respostas anteriores. Consta, portanto, de algumas perguntas básicas e de outras que variam em função do que o sujeito vai dizendo e dos interesses que orientam a pesquisa que está sendo realizada.
A essência do método clínico consiste em uma intervenção sistemática do pesquisador em função do que o sujeito vai fazendo ou dizendo. Em alguns casos, ele tem de cumprir uma tarefa; em outros, explica um fenômeno. O pesquisador, mediante suas ações ou suas perguntas, procura compreender melhor a maneira como o sujeito representa a situação e organiza sua ação (DELVAL, Juan. Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das crianças. Tradução: Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 12)
Na aula presencia da interdisciplina Desenvolvimento e Aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II apresentamos os vídeos da aplicação do método clínico pelas alunas do PEAD. Foi uma das aulas mais divertidas que tivemos, pois, ao assistir os vídeos, íamos percebendo os erros, as induções, os nervosismos, as muitas falhas típicas de que debuta nessa tarefa. Mas para mim foi uma das aulas que mais aprendemos, pois podemos analisar o que era bem feito e o que precisava melhorar.
Trata-se de um método que não pode ser aplicado em sala de aula, mas ao estarmos apropriadas dele, teremos como perceber pensamentos de nossos alunos mesmo em meio a turma.
Gostei demais de ter feito essa tarefa. Segue o link do vídeo que fiz com dois meninos. Trata-se de uma prova de conservação de massa, outra de líquidos e outra de comprimento.
https://youtu.be/BQ7RPbuNm14
sábado, 25 de novembro de 2017
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Um pouco mais de história...
Mais uma vez, quando realizava minha
pesquisa de Pós-Graduação, nos jornais antigos, me deparei com um assunto que
nos interessa: gênero. Trata-se de uma edição do Correio do Povo de março de
1943 em que estava sendo discutida uma lei que implantava a "separação dos
alunos, por sexo". Tratava-se dos alunos do Ensino Secundário, o que
hoje seria o Ensino Médio.
Encontrei duas publicações, uma contra
e a outra a favor.
Nessa publicação, do Correio do Povo,
de 20 de março de 1943, cujo título é SEPARAÇÃO DOS ALUNOS, POR SEXO, uma
diretora de uma escola do Rio de Janeiro diz estar aguardando o pronunciamento
do ministro Gustavo Capanema quanto a lei que obrigaria a separação dos alunos
por sexo. A professora escreve:
Preferimos crer que o Sr Capanema reconsidere a questão e defira o apelo [de suspender a lei].Supomos que não seja fácil defender o dispositivo impugnado, a menos que se lance, mas se lance corajosamente, sem reticencias, sobre todos os outros, ou sobre alguns de nossos estabelecimentos de ensino secundário uma pecha infamante. Porque, não sendo possível alegar em apoio da medida razões de natureza pedagógica, não há dúvida que ela se fundamenta em motivos de ordem moral. E a palavra "promiscuidade", proferida a propósito do regime escolar vigente caracteriza perfeitamente o alvo visado pela inovação.Essa "promiscuidade" condenada numa sala de escola, recinto sob a guarda de mestres e inspetores e, mais, fiscalizado por funcionários do Ministério da Educação, passa a ser inócua, inocente, quando verificada nos centros esportivos, nas praias de banhos, nos cinemas, onde, aí sim, talvez houvesse o que fazer...Mas num educandário!...Que coisa mais grave se poderá articular contra uma geração e contra os responsáveis por sua formação moral? E por que, se tão grande é o perigo dessa "promiscuidade", não decretar a separação de sexos, radicalmente, a começar do curso primário, tantas vezes frequentado por alunos em idade superior à fixada para admissão ao curso secundário? Por que não implantá-la nas repartições?
Depois a professora passa a relatar
problemas de ordem material, como falta de salas, de professores, entre outros.
Mas o trecho acima nos diz muitas coisas. Essa questão aconteceu há 74 anos. Se
pensarmos em tempo histórico, é um período curto. O uso do termo
"promiscuidade" nos espanta. Ao que parece, esse foi o principal
argumento para proposição dessa lei. Corajosamente a professora/diretora lista
argumentos fundamentados, não vendo razão para essa separação acontecer somente
nas escolas de ensino secundário. Por outro lado, nos chama atenção também, a
rígida estrutura citada pela diretora de uma rede empenhada em fiscalizar e
disciplinar alunos.
Mas vejamos agora outra reportagem
também do Correio do Povo, do dia 26 de março de 1943, que mostra uma opinião
contrária a da diretora carioca.
Com assinatura de Aldo Obino, colunista
de Arte do Correio do Povo por mais de 30 anos, o artigo se intitulava de A
COEDUCAÇÃO.
Aldo Obino inicia contando a história
da coeducação, que seria a instrução conjunta de ambos os sexos, criada por
Horácio Mann nos Estados Unidos no ano de 1831. Acusa esse sistema de ensino de
comunista e alega que sua vigência visa a economia de custos. Eis um trecho da
sequencia de absurdos escritas por Aldo Obino:
Os princípios da coeducação propostos por Mann aparentam altos desígnios, os quais a análise científica, entretanto, não confirma.O fator fisiológico do crescimento é decisivo e importante no assunto. É que a evolução física de um sexo para outro é desigual e de impressionante alternância. Eis porque física e intelectualmente se desaconselha a coeducação com dados da psicologia e da pedagogia. O ensino misto se apresenta, assim, de todo e qualquer modo contraproducente.
Não se leva em conta o distinto crescimento mental nos dois sexos.
O colunista argumenta que, devido a
diferença física e intelectual de ambos os sexos, não devem ser educados
juntos.
Aos olhos de hoje, assusta. Mas a
opinião desse homem público, formador de opiniões por ser colunista do jornal,
reflete as concepções de uma época não tão distante de nós.
Que bom que já tínhamos mulheres
corajosas como a professora do primeiro artigo! Pena que seu nome não foi
citado.
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Quanto a cor/raça...
Continuando a série "dados de uma turma de quinto ano, apresento o item "cor/raça"
O
primeiro aspecto a ser pontuado nessa categoria, é o próprio termo usado para
categorizar os alunos: “cor/raça”. Ao fazer uma análise dos instrumentos de pesquisa
do INEP, SENKEVICS, MACHADO e OLIVEIRA (2016), nos alertam:
(...)
o sistema de classificação racial brasileiro se pautou historicamente pela
noção de cor, fenômeno que explica a introdução do conceito de raça apenas em
1991. Mas, aqui, é preciso adiantar que a ênfase sobre a ideia de que “cor”
distingue racialidade entre sujeitos esteve calcada no peso atribuído às
variações fenotípicas para a classificação dos indivíduos – a regra de “marca”
-, ao contrário da importância que algumas sistematizações conferem à
ascendência. Em vista disto, é usual encontrar, em trabalhos e instrumentos de
pesquisa, a denominação “cor ou raça” ou apenas “cor/raça”, tática que chama
atenção para a alternância entre os dois conceitos: “cor” como metáfora de
raça, e “raça” como categoria analítica construída sobre o conceito nativo de
“cor” (SENKEVICS; MACHADO; OLIVEIRA, 2016, p.10).
Importante
pontuar que na ficha de matrícula dos alunos, não há opções a marcar. Há um
espaço em branco onde a responsável escreverá a raça/cor a qual se sinta
pertencente.
Os
dados do último censo no Brasil trazem os seguintes dados:
No
último recenseamento, vemos que, pela primeira vez desde o século passado, a
população branca deixou de compor a maioria do povo brasileiro. Hoje, temos
47,7% que se declaram brancos, 43,1% pardos, 7,6% pretos, 1,1% amarelos e 0,4%
indígenas. Somando-se os quantitativos de pretos e pardos, teríamos 50,7% de
negros. Além do mais, reduziu-se o percentual de “não declarados” a
praticamente zero, o que tornou mais preciso e informativo o sistema
classificatório de cor ou raça (SENKEVICS; MACHADO; OLIVEIRA, 2016, p.14).
Usando
os mesmos parâmetros para nossa turma temos: 50% que se declararam brancos, 30%
pardos, 13,33% pretos, 3,33 indígenas, nenhum amarelo e 3,33% não declararam. Somando-se
negros e pardos, temos 43,33%
Se
compararmos os dados da nossa turma com os dados do último censo temos:
Brasil
(censo de 2010) em %
|
Turma
do quinto ano (2017) em %
|
|
Branca
|
47,7
|
50
|
Parda
|
43,1
|
30
|
Preta
|
7,6
|
13,33
|
Amarela
|
1,1
|
zero
|
Indígena
|
0,4
|
3,33
|
Não
declarada
|
zero
|
3,33
|
Parda
+ negra
|
43,33
|
50,7
|
Apesar
das diferenças, não há uma grande disparidade entre os dados nacionais e os
encontrados na nossa turma. A maior diferença está na categoria indígena, mas
se relativizarmos com as outras categorias, vemos que, em média, a turma
reflete os dados nacionais.
sábado, 11 de novembro de 2017
Quanto a religião...
Hoje, como afirmei na semana passada, irei apresentar um dos resultados da pesquisa feita nas fichas de matrícula dos alunos de uma turma de quinto ano da minha escola. Um dos itens foi religião.
Na sistematização dos dados encontramos:
Na sistematização dos dados encontramos:
Os
dois gráficos acima precisam ser analisados de forma conjunta. O primeiro nos
mostra, entre os declarantes, uma grande variedade de religiões com
predominância da religião católica. Mas temos 36,6% que preferiram não declarar
sua religião. Embora essa tenha sido a categoria mais escolhida, o segundo
gráfico nos mostra que 90% dos responsáveis não vêm nenhum empecilho de seus
filhos assistirem as aulas de religião. Na verdade, não temos aula de religião
na escola. Acredito que essa questão ainda esteja na ficha de matrícula por ser
um modelo antigo. Mas não deixa de ser um dado curioso a relação entre os dois
dados, pois, apesar de não declararem ou não pertencerem a nenhuma religião, ou
ainda termos uma certa variedade de religiões, a participação de uma aula em
comum não seria problema.
sábado, 4 de novembro de 2017
O que nos informam as fichas de matrícula de nossos alunos...
Como tarefa da interdisciplina Questões étnico-raciais: Sociologia e História temos que pesquisar os dados de nossas turmas no censo escolar ou nas fichas de matrículas.
Escolhi uma turma de quinto ano na qual sou Volante, ou seja, atendo a turma durante os períodos de planejamento da professora referência.
Descobri que as fichas de matrículas são uma rica fonte de informações que podem orientar nossos planejamentos e ações perante a turma.
Nas próximas semanas irei postar os itens que achei mais importantes, apresentando o gráfico representativo dos dados e a análise de cada uma deles. Aguardem!!!
Escolhi uma turma de quinto ano na qual sou Volante, ou seja, atendo a turma durante os períodos de planejamento da professora referência.
Descobri que as fichas de matrículas são uma rica fonte de informações que podem orientar nossos planejamentos e ações perante a turma.
Nas próximas semanas irei postar os itens que achei mais importantes, apresentando o gráfico representativo dos dados e a análise de cada uma deles. Aguardem!!!
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