sábado, 28 de maio de 2016

Educação Musical para Surdos

Esta semana quero disponibilizar para vocês um artigo que escrevi em 2015 quando fiz uma Pós-Graduação em Educação Especial. Tem muito a ver com nossos estudos nesse semestre...(ao copiar e colar o texto, algumas partes ficaram ilegíveis, então tive que pintar para aparecer, apenas probleminhas técnicos, não são destaques do texto).




EDUCAÇÃO MUSICAL PARA SURDOS:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E POSSIBILIDADES


Kênia Simone Werner[1]
Prof. Me. Gislaine Aquino[2]


Resumo
Este artigo está dividido em três seções. A primeira apresenta um breve histórico da Educação de Surdos e da Educação Musical no Brasil, duas áreas ainda em expansão no país, com histórico de lutas pela conquista de espaços na educação regular e especial. Na segunda, são feitas algumas considerações a respeito dos cuidados a serem tomados no planejamento das aulas de música para alunos Surdos, uma vez que esses alunos possuem especificidades que requerem adaptações nas atividades musicais. Para finalizar, são apresentadas quatro sugestões de atividades musicais adaptadas para serem desenvolvidas com alunos Surdos. A primeira tem como objetivo observar como é feita a distinção dos timbres pelos surdos; a segunda tem como objetivo trabalhar o ritmo com os alunos Surdos; a seguinte, chamada de Jogo dos palitos, procura trabalhar a discriminação visual, a pulsação, a sequenciação, a atenção, a lateralidade (discriminação da leitura – esquerda para a direita) e a abstração; e para finalizar, uma atividade com copos, que  visa estimular a lateralidade, o equilíbrio dinâmico dos copos, a noção espacial e temporal, a pulsação, a atenção, o ritmo, o andamento, a memória, a sequenciação, a parceria, entre outros. Não se pretende, com esse artigo,  esgotar o assunto, mas colaborar para a divulgação dessa importante prática para a Educação dos Surdos, uma vez que são escassos os estudos a esse respeito.

Palavras-chave: Educação Musical. Surdez. Inclusão.


1 INTRODUÇÃO


Em nossa trajetória como Educadora Musical sempre trabalhamos para uma maior sensibilização no que diz respeito a audição. Em nossa sociedade a visão é o sentido que predomina, e a audição acaba sendo negligenciada. “A tendência da sociedade em privilegiar um sentindo, no caso a visão, como elemento organizador do mundo fez BACHELARD chamar isto de ‘ocularização’ da sociedade e VIRILIO chama de ‘primazia da imagem’”(GONÇALVES, 2008, p. 55).

Porém, ao cursar a Pós-Graduação em Educação Especial Inclusiva da Uniaselvi, especialmente no Módulo 10 que trata da Deficiência Auditiva e Libras, nos deparamos com um universo inverso do que costumávamos trabalhar. Pessoas que se apoiam fortemente no visual por não poderem ouvir sequer os sons que os rodeiam. E isso nos interessou. Partimos de perguntas como: É possível a Educação Musical para surdos? Que atividades poderiam ser desenvolvidas? Quais benefícios essas atividades poderiam trazer para os Surdos? A partir destes questionamentos fomos à procura de Educadores Musicais que tivessem passado por experiências com Surdos. Como não temos contato com alunos Surdos, nossa pesquisa foi a partir de artigos, dissertações e teses produzidas sobre o assunto, procurando reunir algumas sugestões de atividades musicais a serem desenvolvidas com Surdos.

É relevante que se situe, no primeiro momento, a Educação de Surdos, suas diferentes fases e seus aspectos legais, bem como a situação da própria Educação Musical, uma vez que também é uma área que esteve por cerca de trinta anos afastada do ensino formal e agora volta como direito de todos. Privilegiaremos, por motivos de espaço, o panorama brasileiro.

Educação de Surdos no Brasil

Em 1855 foi fundado, no Rio de Janeiro, o Imperial Instituto de Surdos-Mudos por iniciativa de Eduard Huet e o Imperador Dom Pedro II. Essa iniciativa trouxe a primeira experiência brasileira quanto a educação de Surdos, sendo ensinadas diversas disciplinas mesclando a língua de sinais francesa com a língua de sinais brasileira da comunidade Surda do Brasil. Em 1913 foi criada a Associação Brasileira de Surdos, com o objetivo de promover a conscientização da sociedade pelo direito do ensino de língua de sinais aos Surdos. Porém essa Associação se desfez com a proibição do ensino da linguagem de sinais pelo Congresso de Milão. No entanto cerca de 180 Associações de Surdos foram criadas nos anos seguintes mantendo viva sua língua (CAMPELLO, 2009).

O ensino dos Surdos no Brasil passou por três fases distintas:

Introdução ao Oralismo: foi instituída a obrigatoriedade da aprendizagem da linguagem articulada e da leitura dos lábios, utilizando o oralismo puro como metodologia educacional. Mesmo assim o uso de língua de sinais permaneceu, apesar da proibição do Congresso de Milão (CAMPELLO, 2009, p. 19).

Introdução de Comunicação Total: trazida ao Brasil por professoras que visitaram o Instituto Nacional de Educação de Surdos da Gallaudet University – EUA, nos anos 1970, tinha como objetivo “oferecer às crianças Surdas as oportunidades de ter acesso à língua e de adquirir conhecimento por meio da aquisição da linguagem” (CAMPELLO, 2009, p. 20).

Introdução ao Bilinguismo: a partir da pesquisa de língua de sinais americana, como status linguístico, por Stokoe (1960) e de Lucinda Ferreira Dutra (1995) sobre a Língua de Sinais Brasileira, iniciou-se discussões sobre a validade da introdução do bilinguismo no Brasil e de sua contribuição para a educação dos Surdos (CAMPELLO, 2009, p. 20).

Desde 2002, com a promulgação da Lei 10.436, os cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de magistério passam a incluir em seus currículos o ensino das LIBRAS. Segundo Campello (2009, p. 21),

O Surdo passou a ter, assim, garantia dos seus direitos à educação, assegurando uma formação que lhe dê condições de autonomia, em várias áreas do contexto brasileiro: no mercado de trabalho, previdência social, lazer, esportes, educação, entre outros. A educação promoveu a inclusão social em todos os seus aspectos (CAMPELLO, 2009, p. 21).

Desta forma temos a garantia da inclusão dos Surdos na sociedade e garantia de que terá uma educação que lhe proporcione desenvolver suas potencialidades, como qualquer outro cidadão brasileiro. Veremos agora um breve histórico da Educação Musical no Brasil para depois fazermos algumas reflexões sobre as relações entre ambas.


Educação Musical no Brasil

No Brasil, o ensino da música nas escolas foi instituído ainda no Regime Imperial, em 1854, através do Decreto nº 1.331. Porém, foi somente a partir dos anos 1930, quando o projeto Orfeônico instituído por Villa-Lobos alcança legitimidade nacional, que se inicia uma etapa de maior destaque para o ensino da música (HENTSCHKE e OLIVEIRA, 2000, p. 47). No entanto, no decorrer dos anos seguintes, uma série de medidas governamentais trataram o ensino da Arte como um todo, de forma confusa e instável. De acordo com Penna (2012. P.122)

A legislação educacional estabelece, há quase quarenta anos, um espaço para a arte, em suas diversas linguagens, nas escolas regulares de educação básica. No entanto, esta presença da arte no currículo escolar tem sido marcada por indefinições, ambiguidade e multiplicidade.

Essa afirmação precede a análise que a autora faz das duas LDBs que são particularmente deliberativas para a definição do espaço dedicado ao ensino da música nas escolas regulares: a Lei 5692/71 e a atual LDB, Lei 9694/96. A primeira estabelece a obrigatoriedade da “Educação Artística” nos currículos de 1º e 2º graus. Entretanto, no primeiro momento não ficam definidas com clareza quais linguagens artísticas estão contempladas nessa disciplina.

Surgem então os cursos de Licenciaturas Curtas que procuravam habilitar os professores em uma abordagem integral das diversas linguagens artísticas e as Licenciaturas Plenas que procuravam habilitar os professores em quatro linguagens da arte: Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho. Podemos concluir, junto com Penna, que a polivalência exigida do professor que marca a implantação da Educação Artística contribuiu para “a diluição dos conteúdos específicos de cada linguagem, na medida em que prevê um trabalho com as diversas linguagens artísticas, a cargo de um único professor” (PENNA, 2010, p. 125). A dificuldade de formação dos professores nas quatro linguagens acarretou na perda de espaço da música nas escolas (bem como das Artes Cênicas) e a Educação Artística passou a ser vista especificamente como Artes Visuais.

Com a atual LDB, a Lei 9694/96, foi instituída em substituição a Educação Artística, o “Ensino da Arte”. Desta forma fica estabelecido o ensino das Artes Visuais, da Dança, da Música e do Teatro nas escolas regulares. Embora tenham sido elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 2008) especificando os conteúdos a serem trabalhados em cada uma dessas linguagens e tenha ficado estabelecido que cada uma delas seriam desenvolvidas por professores especialistas (Brasil, 2006), não há consenso de como seria a distribuição desses profissionais nas escolas, ficando a cargo das Secretarias de Educação e escolas a decisão de qual área da Arte seria trabalhado na escola. A área da Música, através de instituições como ABEM – Associação Brasileira de Educação Musical, ANPPOM – Associação Nacional de Pesquisa e Pós- Graduação em Música, bem como professores de música de escolas públicas e particulares, iniciaram um movimento para institucionalização da obrigatoriedade do ensino da música nas escolas.

Dessa campanha denominada “Quero Educação Musical nas Escolas” resultou a aprovação da Lei 11.769/2008 tornando obrigatória a presença de pelo menos um professor de música em todas as escolas brasileiras. Finalmente, em 04/12/2013 foram aprovadas as Diretrizes Nacionais, para a operacionalização do ensino da Música na Educação Básica, que obriga todos os alunos das escolas de educação básica brasileira a terem acesso à educação musical.

A partir desses dois breves históricos, da educação de Surdos e da Educação Musical no Brasil, vemos que está assegurada a educação de Surdos no sistema educacional brasileiro em qualquer nível bem como é assegurado o direito a Educação Musical para todos os alunos brasileiros do Ensino Fundamental e Médio. Desta forma, temos assegurado o direito de alunos surdos terem aulas de música. Mas... como fazer? É possível?


2  MÚSICA PARA SURDOS: COMO FAZER?

Música é som? também...e som é vibração. Música é movimento?...também...e movimento é vida, é intenção, é expressão. Logo, o surdo não pode “ouvir” o que está acontecendo, mas pode sentir através da vibração e compreender através do movimento as intenções musicais (Viviane Louro, Rededuc, s/d).

É muito comum as dúvidas e às vezes até espanto das pessoas quando se fala em Música para Surdos. As controvérsias são muitas e as dúvidas também. Devemos deixar claro que a percepção da música, ou mesmo dos sons, não são concebidos da mesma forma para os alunos Surdos e os ouvintes. Sá (2008) faz algumas considerações importantes que precisam ser consideradas antes de pensarmos como deve ser a Educação Musical dos Surdos. De acordo com essa autora

É muito importante que sejam questionados os objetivos pedagógicos a serem perseguidos com as atividades musicais para surdos: o que se pretende é oferecer aos surdos o direito de conhecer este elemento cultural humano tão importante, ou, o que se pretende é obrigar os surdos a participarem de algo que não faz sentido para eles? Estamos tratando de uma oferta ou de uma obrigatoriedade? De uma troca ou de um pacote depositado? (SÁ, 2008, p. 2).


Sá se refere a validade de atividades como, por exemplo, um coral de Surdos em que eles meramente copiam o ouvinte-modelo que se põe a fazer sinais, acompanhando a música que os ouvintes estão apreciando. O que acontece muitas vezes é que os ouvintes pensam que os Surdos devem apreciar a música da mesma forma que eles.

Pelas diferenças entre Surdos e não Surdos, a Educação musical deve ter propósitos distintos. As atividades precisam ser adaptadas de acordo com as necessidades de cada grupo. Viviane Louro (Rededuc, s/d), Educadora Musical que se dedica ao estudo do ensino da música para pessoas com deficiência física, mental, visual, auditiva e múltiplas nos dá algumas dicas de como organiza seu trabalho com Surdos:

Musicalmente falando, o primeiro grande desafio é fazer o surdo se concentrar e compreender a importância de se manter uma pulsação. Então, sempre começo com exercícios de concentração e pulsação. Num segundo momento introduzo a leitura rítmica musical, pois o fato de aprender a ler as figuras colabora em muito com a organização neurológica dos alunos e facilita a compreensão musical. Paralelo a esse trabalho, faço vários exercícios psicomotores e alguns para ampliar a sensibilidade tátil e “percepção” do som através das vibrações (LOURO, s/d, p. 1)

São uma série de aspectos a serem trabalhados, a pulsação, a leitura rítmica, a percepção das vibrações, sendo cada um deles de extrema importância para a compreensão musical. Cecília Cavalieri França nos contempla com uma obra de literatura infantil chamada O silencioso mundo de Flor. O livro conta a história de Flor, uma menina surda que é levada por seu amigo ao barracão de uma Escola de Samba. Lá ela tem oportunidade de sentir a vibração de cada instrumento, associando com sua intensidade, altura e timbre, características sonoras básicas para entendermos as músicas. Em minha opinião, excelente referência para um bom trabalho de Educação Musical com alunos Surdos.

Viviane Louro aponta ainda outros aspectos importantes a serem considerados na hora da aula de música para Surdos. Uma delas é a necessidade de apurar o quanto os alunos possuem ou não de resíduo auditivo e como utilizar os instrumentos musicais para maximizar a aprendizagem do aluno.

Há aqueles que percebem melhor os instrumentos graves, outros preferem os agudos, pois os graves “machucam” o ouvido. Muitos alunos apesar de serem surdos possuem hipersensibilidade auditiva e isso quer dizer que são hiper sensíveis a determinados sons. O professor precisa estar atento a isso, pois expor um aluno desses a muito som pode fazer com que ele perca o pouco que possui de resíduo auditivo (LOURO, s/d, p. 1).

Outra questão apontada pela autora é quanto ao aparelho auditivo.

Muitos acreditam que se o aluno usar aparelho está tudo resolvido. Muito pelo contrário, em minhas aulas de música geralmente os alunos que utilizam aparelho os tiram na hora da aula, pois a função do aparelho é ampliar a “sensação” auditiva do som ao redor e não fazer a pessoa ouvir. Sendo assim, na aula de música o aparelho às vezes atrapalha, pois confunde a pessoa se houver, por exemplo, vários instrumentos sendo tocados ao mesmo tempo (LOURO, s/d, p.1).


Levando em consideração essas importantes colocações feitas por Viviane Louro, seguimos agora com algumas sugestões de atividades musicais adaptadas para alunos Surdos.


3  SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Atividade 1:

Um exemplo de atividade tem como conteúdo o timbre, com a intenção de observar como é feita esta distinção pelos surdos. Para nós ouvintes, timbre significa a qualidade ou o ‘colorido’ de um som.  “As variações de timbre são percebidas, por exemplo, como agrupamentos de sons tocados por um mesmo instrumento musical, ou falados por uma mesma pessoa, mesmo que estes sons possam ser bem distintos entre si, de acordo com sua altura, intensidade ou duração” (LOUREIRO; PAULA, 2006, p.58).

A atividade consiste em sentar os alunos em volta de uma mesa e colocar vários objetos na mesa como garrafa de vidro, pote plástico e de metal, caixa de madeira, etc. Deve-se tocar com uma baqueta cada um dos objetos enquanto os alunos ficam com as mãos em cima da mesa para sentir as vibrações. É preciso certificar-se que todos os alunos saibam identificar os objetos, seja por libras ou convenção de algum outro tipo de sinal para cada objeto. Depois desta fase de conhecimento da produção sonora de cada objeto e da vibração, o passo seguinte é vendar os olhos dos alunos e tocar cada objeto com a baqueta para que eles os identifiquem. Esta atividade poderá ser ampliada posteriormente utilizando-se instrumentos musicais (SILVA, 2008, p. 5).

Atividade 2:

Essa atividade tem como objetivo trabalhar o ritmo com os alunos Surdos.
Essa duração de tempo no padrão do ocidente tem suas batidas específicas sendo conhecido como ritmo divisivo. Um dos métodos utilizados para a formação musical de Surdos é a realização de exercícios de percussão corporal. O instrumento é o próprio corpo, criando arte musical através de palmas, estalos, pisadas, batidas no peito e na boca alcançando resultados musicais variados e interessantes, proporcionando mais igualdade de oportunidade no acesso a educação musical entre os alunos ouvintes e Surdos. É importante que, sempre, antes das atividades musicais propriamente ditas, se prepare o corpo para tal, destacando alguns momentos para alongamento (relaxamento) e exercício de respiração e concentração.

Guiados pela luz do metrônomo ou pela rotação de segundos do ponteiro do relógio, cada componente emite um som (sequências de palmas, estalos batidas no peito, etc.) que, combinados com outro som executado pelo seguinte componente, finaliza em uma ordenação de sons agradáveis. É importante acreditarmos na sua capacidade musical até porque essas atividades de ritmo como ponto de partida do processo educacional musical, já despertam neles reações de contentamento e prazer, sentimentos esses, natos de quem percebe e sente o poder da música.

É desafiador e totalmente possível para os Surdos, levando em conta suas características biológicas, manterem a pulsação em movimentos que emitem sons. Devem-se trabalhar também algumas noções de leitura rítmica musical, pois a leitura e
compreensão das figuras concorrem para maior desenvoltura na execução da musicalidade (PEREIRA, 2012, p. 3).

Atividade 3:

Essa atividade é chamada de Jogos dos palitos.
Consiste em acompanhar a pulsação e discriminar em qual delas foi tocado o instrumento musical. Tem o objetivo de trabalhar discriminação visual, pulsação, sequenciação, atenção, lateralidade (discriminação da leitura – esquerda para a direita); abstração. O jogo é composto pelos seguintes materiais: quatro palitos de sorvete para cada grupo com quatro alunos, quatro círculos de EVAS (etil vinil acetato, emborrachado) para cada grupo e um instrumento musical. No princípio do jogo deve-se distribuir quatro palitos de picolé para cada grupo e pedir que coloquem um ao lado do outro, em posição vertical. Depois disso, distribui-se pequenos círculos feitos com material emborrachado. Depois devemos mostrar a todos o instrumento que se utilizará na atividade, podendo ser um tamborim, ou uma flauta ou um agogô entre outros.

Explica-se aos alunos que cada som percutido corresponderá a cada palito de picolé, no caso, quatro e que será simulado o toque do instrumento, porém só será tocado em um dos movimentos. Os alunos devem marcar com o círculo emborrachado o palito correspondente ao som percutido. Este jogo é muito importante para trabalhar a atenção (pulso e instrumento) nos palitos, direcionamento (esquerda-direita), associação do toque da pulsação com o palito, entre outros. (SILVA, 2008, p. 5).



Atividade 4:

Esta atividade foi baseada no livro Lenga la Lenga: jogos de mãos e copos de Viviane Beineke e Sérgio Freitas (2006). Este livro é um material didático que contém canções tradicionais brasileiras arranjadas para jogos de mãos e copos, explorando ritmos e brincadeiras tradicionais da infância. Este material contém um CD-ROM Interativo e um DVD com as canções. O material necessário para esta atividade foi copos de plástico com papel contact colorido. A atividade visa estimular a lateralidade, equilíbrio dinâmico dos copos, noção espacial e temporal, pulsação, atenção, ritmo, andamento, memória, sequenciação, parceria, entre outros.

A atividade consiste em executar ritmos com copos em cima da mesa e mãos. A sequência da atividade é a seguinte: bater palma, pegar o copo pelo fundo, segurando e levantando e bater a boca do copo no chão. A sequência é baseada na proposta de Beineke para a música Rabo do Tatu. É uma música binária. No primeiro compasso, os alunos batem palma e pegam o copo. No segundo, batem a boca do copo e esperam um tempo em pausa. Todos, sentados em volta da mesa, fazem essa sequência, repetindo-a até ser indicado o momento de parar (SILVA, 2011, p. 27).


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na primeira parte do artigo foram feitas algumas colocações a respeito do histórico da Educação para Surdos e da Educação Musical no Brasil, ambas as áreas em desenvolvimento e buscando espaço nas escolas regulares e específicas. Em seguida foram feitos alguns comentários a respeito da dificuldade da compreensão de como devem ser as aulas de música para Surdos e os cuidados que o professor de música deve ter, considerando a especificidade dos alunos. Para finalizar são apresentadas algumas sugestões de atividade para que os alunos Surdos tenha a oportunidade de entender as músicas de sua cultura e de outras também.

Além dessas atividades apresentadas nesse artigo, há uma infinidade de outras que podem ser trabalhadas com alunos Surdos. Cada uma delas ajuda no desenvolvimento motor, psíquico, emocional entre outras desses alunos. Embora ainda pouco explorada, tanto pela Educação Musical quanto pela Educação de Surdos, são atividades que trazem benefícios importantes. Para que essa área se expanda, são necessárias medidas constitucionais, como por exemplo, a inclusão da disciplina de Educação Especial nos cursos de Licenciatura em Música, criando a possibilidade, e facilitando, o trabalho desses profissionais de trabalharem não só com alunos Surdos, mas com outras deficiências também, uma vez que a música pode ser benéfica para o desenvolvimento de qualquer indivíduo com deficiência ou não.

O objetivo deste artigo, obviamente, não é esgotar o assunto, mas colaborar para a divulgação dessa importante prática para a Educação dos Surdos, uma vez que são escassos os estudos a esse respeito. É importante que cada vez mais esses alunos passem pela experiência de terem aulas de música para que possam descobrir um mundo que certamente se abre ao terem contato com os sons.









REFERÊNCIAS


BEINEKE, Viviane; FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Lenga la Lenga: jogos de mãos e copos. 1ªed. São Paulo: Ciranda Cultural, 2006.
BRASIL. Lei nº. 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Diário Oficial [República Federativa do Brasil]. Brasília, DF, em 19 de ago. de 2008.
_______. Lei nº. 9394 de 20 de dez. de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [República Federativa do Brasil]. Brasília, DF, em 28 de dez. de 1996.
________. Lei nº 5692 de 11 de ago. de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências.
_______. Lei nº 10.436, de 24 de abr. de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências.

CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Deficiência Auditiva e Libras. Indaial: Grupo UNIASELVI, 2009.

GONÇALVES, C. J. S. Corporeidade - Uma complexa trama transdisciplinar. Arte e Educação em Revista, v. 1, p. 23, 2008.
HENTSCHKE, Liane.; OLIVEIRA, Alda. A Educação Musical no Brasil. In: HENTSCHKE, L. (org). Educação musical em países de línguas neolatinas. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, p. 47-64, 2000.
LOUREIRO, Maurício A.; PAULA, Hugo B. de. Timbre de um instrumento musical. Per Musi, Belo Horizonte, n.14, 2006, p.57-81.

LOURO, Viviane. Educação musical para surdos: é possível? Rededuc.com, s/d. Disponível em: <http://www.rededuc.com/artigos_100.html>. Acesso em: 20 jul. 2015.

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2010.
PEREIRA, Jane Paulino. Atividade musical com surdos: Percussão Corporal. In: CONGRESSO NORTE NORDESTE DE PESQUISA E INOVAÇÃO, 7, 2012, Palmas, Anais. Palmas, 2012.VII CONNEPI – Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação. Palmas – Tocantins,  out. 2012.

SÁ, Nídia Regina Limeira de.  Os Surdos, a música e a educação, Manaus, n. 5, v. 2, 2008.
Disponível em <http://dialogica.ufam.edu.br/dialogicaV2-N5.html>. Acesso em: 21. jul. 2015.

SILVA, Cristina Soares da. Atividades musicais para surdos: como isso é possível. In: XVII Encontro Nacional da ABEM, 17, 2008, São Paulo. Anais. São Paulo, 2008.

SILVA, Cristina Soares da. Educação musical para surdos: uma experiência na escola municipal Rosa do Povo. Rio de Janeiro, 2011. Meloteca. Disponível em:
<http://meloteca.com/pdf/musicoterapia/educacao-musical-para-surdos.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2015.




[1] Graduada em Licenciatura em Música pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e Doutoranda em Música na UFMG. E mail: keniaw@terra.com.br.
[2] Mestre em Educação pela UFRGS. Professora orientadora deste artigo

Um comentário:

  1. kênia
    Muito interessante tuas postagens sobre educação musical para surdos, fez me lembrar do meu curso de Libras, onde tínhamos que transmitir a música através de Libras.
    Bjs Lú.

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